Filme do Desassossego
João Botelho, realizador de renome, anda em digressão pelo país a mostrar o seu mais recente "Filme do Desassossego". Um trabalho que se trata de uma adaptação d' "O Livro do Desassossego", escrito por Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, e no qual o realizador quis preservar a palavra original. O fio narrativo do filme concentra-se em três dias e três noites e conta com cerca de quarenta actores em curtas participações, como Rita Blanco, Alexandra Lencastre, Miguel Guilherme, Catarina Wallenstein, Laura Soveral, Margarida Vilanova, Ricardo Aibéo, Manuel João Vieira e Marcelo Urghege. O actor Cláudio da Silva é o protagonista do filme, interpretando Bernardo Soares, o ajudante de guarda-livros que, entre desabafos, lamentos e constatações, vai revelando os pensamentos fragmentados do seu desassossego.
Depois de Porto e Lisboa, foi a vez de Arcos de Valdevez receber na passada terça-feira, 12 de Outubro, o realizador no auditório da Casa das Artes concelhia, para duas exibições. Uma, durante o dia, para a população escolar e outra à noite, para o público em geral.
Segundo o próprio, a ideia desta tour, que quer levar a locais de Norte a Sul do País e Ilhas, "foi fazer um bocadinho de serviço público, fora dos Centro Comerciais", porque "há filmes que não são compatíveis com esses locais, e, este é um deles. Neste tipo de salas existe uma celebração do cinema que não existe nos Shoppings. Trata-se de um trabalho baseado num dos textos mais importantes da literatura portuguesa e quero respeitá-lo, além de que as pessoas precisam de saber que existem várias formas de fazer cinema. A ideia é ouvir um texto", afirmou.
Referindo que com "O Filme do Desassossego" abriu um caminho no meio cinematográfico e que mudou as regras do jogo, com ele espera levar à descoberta e à conversação, causando a inquietação que na sua opinião o cinema deve originar.
Já quando questionado sobre a receptividade por parte do público em relação ao seu filme, João Botelho avançou que as "pessoas correm para vê-lo" e "em meia dúzia de dias já tive mais espectadores do que em alguns anos".
"Este é um filme para quem gosta de ler e que só pode ser feito no Teatro ou no Cinema. Como eu faço Cinema, fiz um filme. Garanto que ele é bonito, não que ele seja bom", concluiu em tom de brincadeira.
João Botelho não pára e já se está a preparar para realizar, futuramente, uma Ópera, alguns documentários, três curtas-metragens e ainda um musical sobre Fado.